Fluência na linha de comando é uma habilidade muitas vezes negligenciada ou considerada obsoleta, porém ela aumenta sua flexibilidade e produtividade como *desenvolvedor* de diversas maneiras, sutis ou não. Este texto descreve uma seleção de notas e dicas de uso da linha de comando que me parecem muito uteis, quando usando o Linux. Algumas dicas são elementares, e outras são mais específicas, sofisticadas ou obscuras. Esta página é curta, mas se você souber usar e lembrar todos os items que estão aqui, então você está mandando bem.
mas dado o interesse por lá, me pareceu importante usar o Github, onde pessoas mais talentosas do que eu, poderiam sugerir melhorias facilmente. Se você descobrir um erro ou algo que poderia ser melhorado, por favor abra um issue ou um PR! (E claro, por favor veja as `meta sections' e PRs/issues existentes, primeiro.)
- Este guia é destinado tanto aos iniciantes quanto aos usuários mais experientes. Os objetivos são *abrangencia* (tudo que é importante), *especificidade* (dar exemplos concretos dos casos de usos mais comuns), e *brevidade* (evitar coisas que não são tão essenciais ou digressões que você pode facilmente encontrar pela internet). Todas as dicas são essenciais em alguma situação ou trazem uma economia notável de tempo em relação a outras alternativas.
- Este guia é escrito para o Linux. Muitos, mas não todos os items, se aplicam igualmente para o MacOS (ou mesmo o Cygwin).
- O foco está na interatividade com Bash, embora muitas dicas aqui sejam aplicáveis a outras `shells' e tambem a scripts em Bash, em geral.
- Incluimos tanto comandos no Unix "padrão", quanto comandos que requeiram instalação de pacotes adicionais -- desde que estes sejam importantes o suficiente para merecerem sua inclusão nessa lista.
- Para manter este guia em uma única página, o conteúdo implícito será incluído por referência. Você é competente o suficiente para verificar mais detalhes em outros lugares, desde que você já tenha entendido a ideia ou saiba o que procurar no Google. Use `apt-get`, `yum`, `dnf`, `pacman`, `pip` ou `brew` (quando adequado) para instalar novos programas.
- Aprenda o básico sobre Bash. Na verdade, digite `man bash` e pelo menos entenda superficialmente o seu funcionamento; é bastante simples de ler e nem é tão grande assim. Shells alternativas podem ser legais, mas Bash é a mais poderosa e sempre está disponível (aprender *somente* zsh, fish, etc, é tentador quando você usa o seu próprio notebook, mas restringe você em muitas situações, por exemplo quando você quer usar servidores de outros).
- Aprenda bem pelo menos um editor de text tradicional. Idealmente o Vim (`vi`), já que nenhum outro funciona tão bem nos terminais aleatórios que a gente encontra por ai (mesmo que você prefira usar o Emacs, um IDE, ou um editor hipster a maior parte do tempo).
- Saiba como ler a documentação com o `man` (para os curiosos, `man man` lista os números das seções, por exemplo, 1 se refere aos comandos "regulares", 5 é sobre arquivos/convenções, e 8 diz respeito a administração). Procure outros documentos do manual com o `apropos`. Saiba que alguns dos comandos não são executáveis, mas sim built-ins(embutidos) no bash, pra esses você poderá conseguir ajuda com `help` e `help -d`.
- Aprenda sobre a expansão de arquivos glob com `*` ( e talvez `?` e `{`...`}`) e entenda as diferenças entre aspas duplas `"` e aspas simples `'`. (Veja mais em variáveis de expansão abaixo.)
- Gerenciamento básico de arquivos: `ls` e `ls -l` (em particular, aprenda o que cada coluna no `ls -l` significa), `less`, `head`, `tail` e `tail -f` (ou melhor ainda, `less +F`), `ln` e `ln -s`(aprenda as diferenças e vantagens de soft links comparados a hard links), `chown`, `chmod`, `du` (para um rápido resumo do uso do disco: `du -sk *`). Para gerenciamento do sistema de arquivos, `df`, `mount`, `fdisk`, `mkfs`, `lsblk`.
- Aprenda a usar `apt-get`, `yum`, `dnf` ou `pacman` (dependendo da distribuição) para procurar e instalar pacotes. E garanta que você possui o `pip` para instalar ferramentas baseadas em Python (algumas das abaixo são mais fáceis de instalar através do `pip`).
- Em Bash, utilize **ctrl-w** para deletar a última palavra, e **ctrl-u** para deletar tudo e voltar para o início da linha. Use **alt-b** e **alt-f** para se mover por palavras, **ctrl-k** para apagar até o final da linha, **ctrl-l** para limpar a tela. Consulte `man readline` para todos os keybindings padrões do Bash. Existem muitos. Por exemplo **alt-.** circula através dos argumentos anteriores, e **alt-*** expande um glob.
- Para ver os comandos recentes, `history`. Existem também muitas abreviações como `!$` (último argumento) e `!!` último comando, embora estes sejam muitas vezes facilmente substituídos por **ctrl-r** e **alt-.**.
- Se você está na metade do caminho ao digitar um comando, mas mudou de ideia, tecle **alt-#** para adicionar um `#` ao início da linha e definir esta como um comentário (ou use **ctrl-a**. **#**. **enter**). Mais tarde você poderá recuperar o comando através da `history`.
- Use `xargs` (ou `parallel`). Estes são muito poderosos. Note que você pode controlar como os vários items são executados por linha (`-L`) assim como o paralelismo (`-P`). Se você não tem certeza se isto é a coisa certa a se fazer, use `xargs echo` primeiro. O `-I{}` também é muito útil. Exemplos:
- Saiba os vários sinais que você pode enviar para um processo. Por exemplo, para suspender um processo, use `kill -STOP [pid]`. Para saber a lista completas dos sinais, veja `man 7 signal`.
- Em scripts Bash, use `set -x` para debugar a saída. Utilize modos estritos sempre que for possível. Use `set -e` para abortar em caso de erros. Use `set -o pipefail` para também ser restrito a respeito dos erros (embora este tópico seja um pouco sútil). Para scripts mais desenvolvidos, use também `trap`.
- Em Bash scripts, subshells (escrito com parênteses) são formas convenientes de agrupar comandos. Um exemplo comum é temporariamente se mover para um diretório de trabalho diferente, e.g.
- No Bash, note que existem muitos tipos de variáveis de expansão. Verificando a existência de uma variável: `${name:?error_messages}`. Por exemplo, se um script Bash requer um único argumento, apenas escreva `input_file=${1:?usage: $0 input_file}`. Expansões aritméticas: `i=$(( (i + 1) % 5 ))`. Sequências: `{1..10}`. Aparando as strings: `${var%suffix}` e `${var#prefix}`. Por exemplo, se `var=foo.pdf`, então `echo ${var%.pdf}.txt` imprime `foo.txt`.
- A saída de um comando pode ser tratada como um arquivo através `<(algum comando)`. Por exemplo, comparar um arquivo local `/etc/hosts` com um remoto:
- No Bash, redirecionar a saída padrão (stdout) e a saída de erro padrão (stderr) através de: `algum-comando >logfile 2> $1`. Muitas vezes, para garantir que um comando não deixa um arquivo aberto para manipular a entrada padrão, digitando isso no terminal que você está, é uma boa prática adicionar um `</dev/null`.
- Use `man ascii` para visualizar a tabela ASCII, com valores hexadecimais e decimais. Para informações gerais sobre codificações, `man unicode`, `man utf-8`, e `man latin1` são úteis.
- Use `screen` ou [`tmux`](https://tmux.github.io/) para multiplexar as telas, especialmente útil em sessões ssh remotas e para desplugar e replugar a uma sessão. Uma alternativa mais simples para a persistência de uma sessão é `dtach`.
- No ssh, saber como realizar um túnel de portas com `-L` ou `-D` (e ocasionalmente `-R`) é útil, para por exemplo acessar sites webs de um servidor remoto.
- Pode ser útil realizar algumas otimizações em suas configurações do ssh; por exemplo, o arquivo `~/.ssh/config` contém configurações para evitar que conexões sejam dropadas em certos ambientes de rede, use compressão (muito útil quando se está usando o scp através de uma conexão lenta), e multiplexação de canais do mesmo servidor com um arquivo de controle local:
- Algumas outras opções relevantes para o ssh tem problemas de segurança e devem ser habilitadas com muito cuidado, por exemplo somente para subrede ou host ou em redes confiaveis (de confiança): `StrictHostKeyChecking=no`, `ForwardAgent=yes`
- Para conseguir as permissões em arquivo em forma octal, o que é útil para a configuraçao do sistema mas não disponível no `ls` e fácil de se confundir, use algo como:
- Para localizar um arquivo pelo nome no diretório atual, `find . -iname '*something*'` (ou similar). Para procurar um arquivo em qualquer lugar pelo nome, use `locate something` (mas tenha em mente que o `updatedb` pode não ter indexado arquivos criados recentemente).
- Para uma busca mais geral através de arquivos de dados ou de códigos (mais avançado do que `grep -r`), use [`ag`](https://github.com/ggreer/the_silver_searcher).
- Para a Amazon S3, [`s3cmd`](https://github.com/s3tools/s3cmd) é uma forma conveniente e [`s4cmd`](https://github.com/bloomreach/s4cmd) é mais rápido. O [`aws`](https://github.com/aws/aws-cli) da amazon é essencial para outras tarefas relacionadas.
- Aprenda a respeito do `tee` para copiar da entrada padrão (stdin) para um arquivo e também para a saída padrão (stdout), como no `ls -al | tee file.txt`.
- Aprenda que as configurações de localização afetam várias ferramentas da linha de comando em formas sutis, incluindo a ordem da ordenação e performance. A maioria das instalações do Linux irá definir `LANG` ou outras variáveis de localização para o ingles dos USA. Mas esteja ciente de que a ordem da ordenação irá mudar, caso você altere a localização. E saiba que as rotinas do i18n podem fazer o `sort` ou outros comandos executarem *muitas vezes* mais devagar. Em algumas situações (como o conjunto de operações ou as operações únicas abaixo) você pode seguramente eliminar a lentidão das rotinas do i18n inteiramente e usar a ordem baseada nos bytes, usando `export LC_ALL=C`.
- Aprenda o básico sobre `awk` e `sed` para obtenção de informações simples de dados. Por exemplo, somar todos os números na terceira coluna de um arquivo de texto: `awk '{ x += $3 } END { print x }'`. Isto é provavelmente 3X mais rápido e 3X mais curto do que o equivalente em Python.
- Para renomear muitos arquivos de uma vez, de acordo com um padrão, use `rename`. Para renomeações mais complexas, [`repren`](https://github.com/jlevy/repren) pode ajudar.
- Para as opções do `sort`. Aprenda com as chaves (`-t` e `-k`). Em particular, saiba que precisa escrever `-k1,1` para ordenar somente o primeiro campo; `-k1` significa ordenar de acordo com a linha inteira.
- Ordenação estável (`sort -s`) pode ser útil. Por exemplo, para ordenar primeiramente pelo campo 2, então secundariamente pelo campo 1, você pode usar `sort -k1,1 | sort -s -k2,2`.
- Se você precisa escrever literalmente um tab na linha de comando no Bash (por exemplo, para o argumento -t do `sort`), pressione **ctrl-v****[Tab]** ou escreva `$'\t'` (o último é melhor pois você pode copiar e colar ele).
- As ferramentas padrão para extrair patches de códigos fonte são `diff`e `patch`. Veja também `diffstat` para um resumo de estatísticas de um diff. Note que `diff -r` funciona para diretórios inteiros. Use `diff -r tree1 tree2 | diffstat` para um resumo das alterações.
- Para converter a codificação de textos, tente `iconv`. Ou `uconv` para uso mais avançado; Este suporta algumas funcionalidades avançadas do Unicode. Por exemplo, este comando transforma o texto para minúsculo e remove todos os acentos (expandindo e removendo eles):
- Para web debug, `curl` e `curl -I` são úteis, ou os equivalentes `wget`, or uma alternativa mais moderna [`httpie`](https://github.com/jakubroztocil/httpie).
- Para saber o status do disco/cpu/rede, use `iostat`, `netstat`, `top` (ou o `htop` como alternativa melhor), e (especialmente) `dstat`. Bom para obter uma ideia rápida do que está acontecendo em um sistema.
- Para um resumo mais aprofundado do sistema, use [`glances`](https://github.com/nicolargo/glances). Este lhe apresenta vários níveis de estatísticas do sistema em uma janela do terminal. Muito útil para uma rápida verificação em vários subsistemas.
- Para saber o status da memória, execute e entenda a saída do `free``vmstat`. Em particular, esteja ciente de que o valor "cached", é mantido pelo kernel Linux como um arquivo de cache, então este efetivamente conta como um valor de memória disponível.
- Debugar um sistema java é uma outra historia, mas um simples truque nas máquinas virtuais Oracle ou algum outro tipo de JVM é que você pode executar `kill -3 <pid>` e um completo rastreamento da pilha(stack trace) e resumo do heap (incluindo detalhes geracionais do garbage collector, os quais podem ser altamente informativos) serão vazados para stderr/logs.
- Para verificar o porque de um disco estar cheio, [`ncdu`](https://dev.yorhel.nl/ncdu) economiza bastante tempo em comparação aos comandos usuais como `du -sh *`.
- Para procurar qual socket ou processo está utilizando a banda de rede, tente [`iftop`](http://www.ex-parrot.com/~pdw/iftop/) ou [`nethogs`](https://github.com/raboof/nethogs).
- A ferramenta `ab` (que vem com o Apache) é muito útil para verificação rápida da performance do servidor web. Para mais complexos testes de carga, tente `siege`.
- Para debugs mais sérios da rede, [`wireshark`](https://wireshark.org/), [`tshark`](https://www.wireshark.org/docs/wsug_html_chunked/AppToolstshark.html), ou [`ngrep`](http://ngrep.sourceforge.net/).
- Aprenda a respeito do `strace`e `ltrace`. Estes podem ser úteis se um programa está falhando, travado, ou quebrando, e você não sabe o por que, ou se você quer obter uma ideia geral da performance. Note que a opção de perfil (`-c`), e a habilidade de se plugar a um processo em execução (`-p`).
- Utilize `/proc`. Este é incrivelmente útil em algumas vezes quando se deseja debugar problemas ao vivo. Exemplos: `/proc/cpuinfo`, `/proc/xxx/cwd`, `/proc/xxx/exe`, `/proc/xxx/fd/`, `/proc/xxx/smaps`.
- Quando estiver debugando o porque de algo ter dado errado no passado, `sar` pode ser de muita utilidade. Ele exibe as estatísticas históricas da CPU, memória, rede e etc.
- Para análises de performance mais profundas do sistema, dê uma olhada em `stap` ([SystemTap](https://sourceware.org/systemtap/wiki)), [`perf`](http://en.wikipedia.org/wiki/Perf_(Linux)), e [`sysdig`](https://github.com/draios/sysdig).
- O seguinte é notavelmente e frequentemente útil: muitas vezes você quer obter a interseção, união e a diferença de arquivos de texto através de `sort`/`uniq`. Suponha que `a` e `b` são arquivos de texto que são "uniqued" únicos. Esse modo é rápido, e funciona em arquivos de tamanhos arbitrários, podem até possuírem gigabytes. (Sorting não é limitado por memória, embora você possa precisar usar a opção `-T` se `/tmp` está em uma partição pequena.) Veja também a nota sobre `LC_ALL` acima e as opções `-u` do `sort`(vamos deixar isso claro abaixo).
- Use `grep . *` para visualmente examinar todo o conteúdo de todos os arquivos de um diretório, por exemplo, para diretórios com arquivos de configurações, como `/sys`, `/proc`, `/etc`.
- Somar todos os números em uma terceira coluna de um arquivo de texto (isto é provavelmente 3X mais rápido e 3X menos linhas de código do que o equivalente em Python).
- Utilize `xargs` ou `parallel` sempre que você puder. Note que você pode controlar quantos item é executado por linha (`-L`) assim como o paralelismo (`-P`). Se você não tem certeza de que esta é a coisa certa a se fazer, utilize `xargs echo` primeiro.
- Digamos que você tenha um arquivo de texto, como um log do servidor web, e um certo valor que aparece em algumas linhas, como por exemplo o parâmetro `acct_id` que está presente na URL. Se você quer um cálculo de quantas requisições para este `acct_id`.
- [`wireshark`](https://wireshark.org/) e [`tshark`](https://www.wireshark.org/docs/wsug_html_chunked/AppToolstshark.html): captura de pacotes e debug de rede.
Com a exceção de tarefas muito pequenas, código é normalmente escrito para que outros possam ler. Junto com o poder vem a responsabilidade. O fato de você *poder* fazer algo usando Bash não significa necessariamente que você deve! ;)
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